O benfiquismo está fragmentado.

– Há os que se intitulam de braço armado do Benfica. Estes querem ter bilhetes e querem ver o SLB ganhar. Pode lá estar qualquer um, se o Benfica ganhar é bom, se perder é alvo da maior contestação possível e de todos os palavrões da nossa língua. São, por definição, ruidosos.
– Depois há os que apoiam a estabilidade e união em torno de uma figura. Não importa as bases dessa união. A união é sagrada. Nunca dirão mal de ninguém da direção e muito menos do Presidente. Acham que isso é fazer o trabalho dos nossos rivais.
– Há também os que defendem, acima de tudo, um Benfica de valores e comportamento imaculado a quem tem a honra de servir nos seus órgãos sociais. Estes barafustam porque quem lá tem estado não tem conseguido, objetivamente, viver sempre nesse padrão.
– Há também os que têm medo de mexer muito, gostavam de ver mudanças, mas nunca em troca de uma terra queimada. Preferem o certo, mesmo que cheire mal.
– Finalmente, há os que só querem ver a bola e mais nada. E se calhar estes até são os maioritários.

Eu não quero ser pessimista mas não vai haver “paz” num clube assim. Será que tem de existir e será que seria assim tão benéfica? Atenção, tirando desta equação o “barulho” que coloca em causa a integridade física do outro. Isso nunca.

Ainda mais: O Benfica do nosso ideal está morto

Em primeiro lugar fica a pergunta: será que vale a pena tentar conter isto? As pessoas vão acabar por falar, é uma paixão muito grande, e hoje em dia o que não faltam são redes em que qualquer um pode falar e ter palco (eu estou claramente incluído neste qualquer um).

Falta democracia

O que falta é democracia. Mas da verdadeira. Diária. Não a democracia que se resume a eleições de 4 em 4 anos e que não é democracia nenhuma pois exige que quem perde esteja calado durante 4 anos. Eu acho com todo o meu ser que este modelo Presidencialista, roubado ao FC Porto por lá ter resultado, é uma das grandes bases da turbulência que existe no Benfica desde 2003. Não é à Benfica. Não vai resultar no SLB.

Segue O Fura-Redes no Whatsapp

– Fomos um clube criado por 24 pessoas, logo aí podem ver que nunca foi ideia isto ser uma monarquia de Rei Sol.
– Durante muito tempo a direção ia a eleições todos os anos. Se ganhava e o clube crescia, estava bem, se não vinham outros. Repito: eleições todos os anos durante décadas.
– Havia AG para tudo e para nada. O Presidente era, por vezes, um mecenas que colocava dinheiro à disposição do clube mas quem decidia como algum desse dinheiro era usado eram os sócios.
– Os sócios construíram, literalmente com as mãos, o Estádio da Luz e por isso nenhum sócio, até aos anos 90 (penso eu) podia ser impedido de entrar no Estádio da Luz.

Ainda mais: O associativismo no Sport Lisboa e Benfica

Militância, associativismo, voluntarismo, democracia, liberdade.

Acima de tudo, estas são as bases em que o Benfica se sente em casa.

Assim, a direção tem de liderar por exemplo, em 1º lugar, e depois criar locais em que as pessoas se escutem (como é que é possível que a BTV se tenha tornado numa fonte de propaganda da direção?) Ouvir o outro é muito importante numa paixão destas. Não para convencer, ou para ser convencido. Para entender o ponto de vista. É de todo o interesse da direção, para conseguir gerir esta paixão que as pessoas falem umas com as outras. Que as decisões sejam explicadas. Vejam como as coisas fogem rapidamente do controlo.

Segue O Fura-Redes no Whatsapp

Depois cabe à direção governar para todos, tendo a sensibilidade de dar a devida importância a cada facção. Mas nunca fazer de conta que uma facção não existe. Certamente que no Benfica as maiorias absolutas não resultam. Este presidencialismo de que só um bando de iluminados nasceram com a sabedoria para governar o clube do povo é a antítese do nosso ADN. Isto não é ciência física da mais avançada. É simplesmente um clube de futebol e uma grande empresa.

E vamos lá ver: o Benfica sempre foi este turbilhão. Sempre. Mas todas as facções eram minimamente abraçadas. As pessoas falavam nas AG e a direção respondia. Enfim, no meio dos berros e da paixão havia ali muita democracia. Atualmente se a direção responder a 1/3 das perguntas feitas pelos associados já é uma boa AG. E não me venham com histórias que agora somos 300.000 sócios… Sabemos bem que a maioria só quer ver a bola e são silenciosos.

E pluribus unum

De muitos, um: o Benfica é a soma de TODAS as opiniões. Mesmo minoritárias. É o nosso lema. Assim, há uma necessidade de todas as manifestações de amor pelo clube serem ouvidas e consideradas!
Sem dúvida que os nossos pais fundadores já sabiam que só assim se atinge a verdadeira união! A nossa maior arma nunca pode ser os euros da conta do banco é a chama imensa.

Quem consegue fazer frente a um Benfica verdadeiramente unido?

O Fura-Redes é um projeto independente com mais de 10 anos, sempre com destaque para o SL Benfica e futebol internacional, escrito por Tiago Wemans (furaredes11@gmail.com). Sou sócio do SLB desde Setembro 2001 e apaixonado por futebol desde o Mundial 1994. Por vezes participo no Visão Vermelha Podcast e no Bola na Rede, órgão de comunicação social de Desporto, vencedor do prémio CNID de 2023 para melhor jornal online do ano.

Entretanto não deixem de seguir a página do X para mais conteúdo de O Fura-Redes twitter.com/OFuraRedes – e o canal do youtube – youtube.com/@OFuraRedes

Segue O Fura-Redes no Whatsapp

O conteúdo O benfiquismo está fragmentado aparece primeiro em O Fura Redes – a tua página sobre o SL Benfica e futebol português!.