Entre 2016 e 2017, o Benfica terá simulado contratos para injetar no Vitória de Setúbal mais de 1,5 milhões de euros. Quem o noticia é a revista Sábado (AQUI) que eu passo a citar.

«Durante dois anos, entre 2016 e 2017, a Benfica SAD realizou uma série de contratos com a Vitória Futebol Clube (VFC) SAD relacionados com o empréstimo de jogadores e a aquisição de direitos de preferência sobre atletas do Setúbal que renderam aos sadinos cerca de 1,5 M€.

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Todavia, de acordo com a investigação da Polícia Judiciária (PJ) e do Ministério Público (MP) no chamado caso dos emails, todos esses contratos não terão tido qualquer racional económico para o Benfica e não terão sido mais do que uma forma de a SAD então liderada por Luís Filipe Vieira transferir verbas para o Vitória FC, cujas dificuldades financeiras eram já conhecidas – em 2020 o clube acabou mesmo por ser afastado das competições profissionais por não reunir condições para o licenciamento da Liga profissional.

Entende o MP que esses acordos fariam mesmo parte de um plano elaborado por Luís Filipe Vieira, Rui Costa, Domingos Soares de Oliveira e Paulo Gonçalves para, através da celebração de diversos contratos fictícios cujo objetivo era “formalizar negócios materialmente inexistentes”, retirar “elevados montantes da esfera da Sport Lisboa e Benfica SAD” e “realizar atribuições financeiras com elevado valor pecuniário ou de ativos com valor desportivo à VFC SAD”, sendo “emitidas faturas fundadas nesses acordos”.

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Bruno Varela

O despacho de indiciação do MP refere concretamente cinco negócios entre a Benfica SAD e a Vitória Futebol Clube SAD que renderam aos setubalenses mais de 1 milhão e meio de euros.

O primeiro acordo que as procuradoras do MP entendem ter sido lesivo dos interesses do Benfica prende-se com o guarda-redes Bruno Varela. A 30 de junho de 2016 o atleta foi cedido gratuitamente pelo Benfica ao Vitória, ficando os encarnados com o direito de readquirir os direitos do jogador até 31 de agosto de 2020 por €100 mil.

Todavia, a 29 de maio de 2017, menos de 1 ano após esse primeiro acordo, o Benfica exerceu o direito que tinha reservado e pagou €100 mil (mais €23 mil em IVA) ao Vitória por apenas 50% dos direitos desportivos e económicos do jogador.

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Direitos de preferência a dobrar

O segundo negócio suspeito descrito pelo MP ocorreu em janeiro de 2017. Nesse acordo, a Benfica SAD comprometeu-se a pagar à SAD do Vitória €300 mil (acrescidos de €69 mil em IVA) pelo direito de preferência de qualquer dos jogadores do plantel do Setúbal.

A quantia foi transferida no fim desse mesmo mês mas, para surpresa das procuradoras, a 4 de abril de 2017 as duas SAD celebraram um novo contrato segundo o qual o Benfica teria de pagar ao Vitória mais €400 mil (acrescidos de €92 mil em IVA) para garantir o direito de preferência na aquisição definitiva de 5 jogadores.

Ou seja, segundo o MP, “atribuiu-se à SLB SAD direitos de preferências que já se encontravam abrangidos pelo contrato celebrado anteriormente.”

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João Amaral

De acordo com o documento a que a SÁBADO teve acesso, os acordos relativos a jogadores do Setúbal não se ficaram por aqui. A Benfica SAD e a VFC SAD viriam a celebrar novo contrato relativamente a João Amaral que já se encontrava abrangido pelos 2 contratos anteriores. Neste terceiro acordo, o Vitória cedeu ao Benfica a opção exclusiva de aquisição definitiva do futebolista por €440 mil (acrescidos de €101.200 em IVA). Caso os encarnados viessem a exercer esse direito, teriam de pagar apenas €10 mil – o que aconteceria em março de 2018. No verão desse ano, o jogador seria vendido ao Lech Poznan da Polónia por €350 mil, de acordo com o site Transfermarkt.

Para o MP, estes contratos sucessivos visavam a “injeção de dinheiro proveniente da SLB SAD na VFC SAD”, tendo os administradores do Benfica agido “orientados pela estratégia de executar o plano de financiamento do VFC (…) sem qualquer benefício ou retorno para a sociedade, dada a existência de sobreposição de direitos”.

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Willyan Barbosa

A informação recolhida pelo MP indica que, em maio de 2017, no mesmo contrato que formalizou a opção de compra de João Amaral, os dois clubes acordaram igualmente a venda ao Benfica de 40% dos direitos de Willyan Barbosa por €40 mil (acrescidos de €9.200 de IVA).

Contudo, para as procuradoras, também este negócio foi uma forma de injetar dinheiro no clube histórico de Setúbal. Isto porque no fim da época anterior, 2016/2017, 70% dos direitos económicos do jogador tinham sido cedidos gratuitamente pelo Clube Desportivo Nacional à SLB SAD por conta de uma dívida que o clube da Madeira tinha ao Benfica e que se cifrava então em €450 mil. O Benfica informou o Nacional que o atleta seria transferido direta e gratuitamente para o Setúbal a partir de 1 de julho de 2017. Por isso, concluiu o MP, ao adquirir 40% do passe de Willyan Barbosa, a Benfica SAD “pagou na verdade por um ativo que lhe tinha sido cedido gratuitamente para efeitos de compensação de dívida, permitindo a atribuição à VFC SAD de €40 mil e a cedência gratuita de um ativo desportivo”.

Para além disso, segundo o MP, quando em março de 2019 o Vitória vendeu o jogador ao Gwangju FC por 120 mil dólares, o Benfica não recebeu qualquer percentagem apesar de possuir parte do passe.

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Novo saco azul?

O processo dos emails, que começou com suspeitas de corrupção, parece ter-se transformado assim num novo caso saco azul. No qual há dinheiro a sair do Benfica sem se saber com que destino ou objetivo – a indiciação não identifica o fim dessas verbas. Para o MP, todos os contratos e pagamentos identificados visavam “formalizar negócios que, na realidade, não ocorreram” da forma como foram declarados, sendo “emitidas faturas fundadas nesses contratos ficcionados”.

É por esse motivo que o clube e os seus administradores são indiciados por fraude fiscal. “Não obstante saberem que se tratava de faturas falsas, documentos fictícios, não aceites como custos fiscais, e que o registo contabilístico das mesmas tinha como consequência necessária a apresentação de falsas declarações, os arguidos optaram, em comum acordo, por as apresentar à Autoridade Tributária, daí resultando vantagens patrimoniais ilegítimas e o enriquecimento da SLB SAD.”»

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O Fura-Redes é um projeto independente com mais de 10 anos, sempre com destaque para o SL Benfica e futebol internacional, escrito por Tiago Wemans (furaredes11@gmail.com). Sou sócio do SLB desde Setembro 2001 e apaixonado por futebol desde o Mundial 1994. Por vezes participo no Visão Vermelha Podcast e no Bola na Rede, órgão de comunicação social de Desporto.

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